CANTO E LÁGRIMA: VIDA INTENSA E NÃO REGIDA

"Regida demais, intensa de menos. Lágrimas engolidas pelos cantos da alma que não tem tempo pra sorrir, chorar, sentir. Mãe, irmã, filha, amante, dona de casa, esposa, profissional exemplo..." Relatos das várias mulheres que se escondem dentro de cada mulher, seu mundo, intocável para aqueles que só enxergam com os olhos da carne.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

FURTA COR

...é quando a gente infla... A veia salta, o suor escorre pela pele lavando a sujeira do tempo! Força, garra... Nada disso... Só o olhar de dentro é que lhe mostrou o que estava acontecendo. De fora, tudo seguia o relógio do normal. Acorda banho café da manhã escritório almoço escritório jantar uma cervejinha e umas pesquisas pra quem sabe... Outro escritório...

De dentro... Ah, de dentro não tinha que seguir regras, fechava os olhos e ia onde bem entendia, chegava a sentir a pele do moço bonito dos olhos furta cor. Furtou seu coração! Partiu com ele, viu um mundo incrível pintado de cores que ficam bem no meio. Sempre uma coisa no meio: o peito - "cheio de amores vãos" - uma menina, uma mulher, uma tonelada de sonhos e aqueles olhos... E aquelas cores...

Numa alma cinza, como podem caber tantas cores??? 
Parece que não era pra ter cor, mas de repente as cores vêm como atraídas pela falta de si mesmas... Nada cinza, nada pastel... Elas puxam vida! Rodam, levam a menina àqueles olhos e lá ela dança, ela simplesmente entra na cabeça dele e dá piruetas.

Ahhhh... Como ela iria imaginar que poderia? Quando ela poderia querer partir? Jamais... E ela não foi e ele não veio! Mas de alguma maneira inexplicável ela estava lá, dando piruetas, e ele estava cá colorindo... E o suor lavando o corpo cinza... E o sonho suportando o real... E o brilho colorido... E a curva, aquela única curva, aquele único laço, só aquele ponto de encontro, fora do ponto de equilíbrio... Inalcançável?

O suor nos olhos, ardendo, o corpo quente, molhado, mole, cansado, sem cor, sem tom, sem ritmo... E as cores vivas brilhantes, cada vez mais, fazendo música... Os desenhos e os olhos embaçados perdidos sonhados furtados... A noite longa agora passa voando, a música contagiante enerva, mas as cores, por que diabos as cores continuam ainda mais vibrantes, mais atraentes, mais sedutoras, mais sonoras, mais presentes?!? Esse mundo daqui é cinza, não é pra ter cor, não é pra ter olhos que furtam... O tempo...

O tempo passou? Ficou? Voltou? Sabe que pode voltar! Ali onde se encontra pode tudo, mas precisa de uma veia de realidade e nela o tempo não volta... Fica no pode ser... Pode ser que talvez... Talvez ele dance e ela colora... Ela vê o futuro pela janela emoldurada de rendas em seu coração e ele não é cinza por dentro! Estranho... e aqueles olhos lá dentro? Ah, aqueles olhos... eles furtam cores e corações!

O corpo esfria, a veia se recolhe e o coração fecha as cortinas e a janela também... A menina que dança vai acordar e rebolar pra chegar na hora ao escritório...

Os olhos?! Os olhos se fecham! As cores somem novamente e ela se reconhece no espelho do banheiro: cinza, variações de branco e preto... Se ao menos fosse aquele sépia que fica verde vibrante na chuva!


E mais uma vez, no pequeno e ínfimo, quase invisível espaço entre dois sonhos, mais um café da manhã, mais um dia de escritório e aquela sensação: eu sei o que tem depois da porta... eu abri as janelas e vi o menino dançando e a menina colorindo... e aqueles olhos... ah, os olhos que me furtam cores!

sábado, 21 de setembro de 2013

SER


Uma veia se levanta e ergue um rio de cores e flores onde nadam tantas coisas que sangue é apenas fluido de emoção para o coração e os órgãos respirarem. O resto é verde, da cor das folhas do cerrado depois da primeira chuva. Vermelho, laranja, roxo, rosa e dourado como o pôr do sol dos dias frios em que o céu toma uma infinidade de cores improváveis. Cinza e prateado como a lágrima e a fita da sandália da moça bonita que dança dança dança, rodopia no funil do ciclone, quando o temporal se acha bailarina...

Relógios parados enfeitam as paredes e correm nelas bicicletas, patins, bolinhas de gude, pipas, pranchas, asas deltas, gamas, betas, alfas... sem ninguém na frente, só as coisas personificando universos impossíveis mas que aqui existem sem tantas amarras do pode ser...

QUE NÃO SEJA SENDO!!!

Um céu sentando na nuvem que cai em cachoeira dentro da menina que muda de cor, no olho do furacão doce, lento e macio, como a brisa fresca da mais gostosa noite de verão do pólo sul, a oeste da grama rosa de algodão doce...

E por que não? Afinal, aqui tudo PODE, tudo QUER, todo NÃO é AO CONTRÁRIO e todo contrário é mais belo que o feio jamais visto, tocado ou lembrado...

Perspectivas se cruzam perpendiculares, côncavas e convexas, sem lentes, apenas para passear!
Passam passageiros e ninguém vê ninguém só sente, e se move, e toca o inexistente nesse mundo mágico de não ser sendo pra não ter que ser alguma coisa que de tanto tentar nunca é...






Texto de minha autoria numa tarde triste e ociosa... Carolina Gobbi - Outubro de 2012