CANTO E LÁGRIMA: VIDA INTENSA E NÃO REGIDA

"Regida demais, intensa de menos. Lágrimas engolidas pelos cantos da alma que não tem tempo pra sorrir, chorar, sentir. Mãe, irmã, filha, amante, dona de casa, esposa, profissional exemplo..." Relatos das várias mulheres que se escondem dentro de cada mulher, seu mundo, intocável para aqueles que só enxergam com os olhos da carne.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A DANÇA


Às vezes tenho uma necessidade urgente de extravasar.
Às vezes meu corpo material é muito pequeno pra tudo que me atravessa.

Nessas horas eu danço!

Muitos outros exercícios poderiam suprir essa necessidade de transformação de energia. De manutenção de fluxo de vida.
Há, entretanto, no ato de dançar, todo um ritual que me transborda numa cachoeira quase divina de energia vital, que me preenche completamente e que me insere na minha posição adequada no Universo.

Eu sou um ponto minúsculo no Universo do Big Bang. Um grão de areia brilhante que habita um terceiro planeta de uma estrela qualquer que nem é tão grande assim... 
Minha natureza é de luz! É da mesma natureza dos elementos que formaram as estrelas que admiro no céu. Da mesma natureza, em sua devida proporção, das constelações e galáxias. Estas que dançam incessantemente no espaço infinito.

Minha energia também precisa de movimento. Meus quadris por vezes entram na órbita do meu ventre, ali onde se concentra a energia que gera vida. Minhas pernas obedecem à trajetória, meu corpo se contorce em movimentos rítmicos, voluntários, curvilíneos e rotacionais... Viro um pião, irradio calor. Devolvo ao Universo a energia que me foi enviada para que eu fosse capaz de sobreviver, mesmo nas mais árduas condições.

O Universo por sua vez me devolve luz e me preenche de novos fluxos de vida vindoura! Sejam quais forem as surpresas do caminho...

Seria muita presunção de minha parte supor que o Universo entra na minha dança. Gosto de fazer essa imagem em minha mente, todavia estou ciente de que acontece exatamente o inverso.

Quando fecho os olhos e me deixo ser levada por sons que me invadem e que me atravessam quase como sendo partes de mim, neste momento entro em sintonia não só com a música, mas com tudo que nos envolve. Com o ar, com a paisagem, com os fluxos de energia que são incessantemente trocados entre meu corpo e o todo que está à minha volta, às voltas de minha cidade, de meu país, de meu continente, de meu planeta, de minha galáxia...
Sou eu quem aceita o convite do Universo, quem lhe dá a mão gentilmente e permite que ele me conduza em piruetas mágicas e transcendentais, valsando entre as estrelas e absorvendo um pouco de suas luzes pelo caminho...

Sou bailarina sem sapatilhas, sem ter tomado aulas de dança, sem saber os passos apropriados. Minha coreografia é por intuição. Minha coreografia se dá pela sensação de ser parte deste todo. Meus movimentos são conduzidos e se devem ao não pensar, ao apenas me ver como parte deste conjunto, ao ato de permitir que o Universo me conduza e não o contrário. Não há escolhas, não há erros... Há apenas um caminho: aquele por onde sou levada através de toda a energia cósmica quando cerro os olhos e limpo a mente permitindo que me invada apenas o todo... Sem que nenhuma das partes o faça individualmente.

Transformo-me no que posso ser de maior quando, conduzida pelo Universo, lhe entrego as fitas da sapatilha para que ele me determine os passos...

E assim, brincando, o Universo me conduz em sua valsa e me devolve música e luz e me renova as energias vitais num ato do mais puro amor. É a prova de que mereço estar viva, de que cada passo dessa dança vale a pena e de que seres humanos são estrelas em suas próprias existências... eu sou e você também é. Portanto, dance!!!