Um dia de cada vez a gente vai vendo o mundo girar, a estrela brilhar, a vida acontecer. Em algumas dessas voltas tudo é luz e em outras, escuridão.
Caminhando pelas sombras sobe um frio no peito, um vazio de energia que sufoca. Respirando sol, bebendo chuva, acinzentando a paisagem dos dias mais azuis, a gente segue se sentindo menor e confrontando a criança malcriada que resistiu aos anos.
Ela grita, chora e pede colo, apesar das exigências do mundo. Criança que tem que aprender a ouvir NÃO e a perder o brinquedo de que não soube cuidar.
A pressa e a ansiedade impedem a gente de ver com clareza a infinidade de eus que compõem cada um. Vários eus coexistindo, formando um só, como tudo no Universo. Dividido e integrado, maduro e infantil, forte e frágil, minúsculo e gigantesco, um paradoxo humano...
"Decifra-me ou te devoro". Quando essa é a interrogação, a resposta está numa outra profundidade. Num mergulho sem paraquedas ao vazio interior. Uma queda livre que sai resgatando os vários eus numa só essência.
Nesse resgate a queda também é vôo, permitindo o contato sincero e nu com todas as vulnerabilidades e com todas as fortalezas que formam cada imperfeição. É quando um ser humano consegue ser sua própria águia. Num vôo solitário e atento, com os olhos precisos aos detalhes e aos menores movimentos.
Talvez ser uma águia a observar a própria caminhada permita o vôo com mais liberdade do que sonha a criança malcriada. É preciso ter coragem para saltar e acreditar que vai voar.
Você sabe voar?
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