CANTO E LÁGRIMA: VIDA INTENSA E NÃO REGIDA

"Regida demais, intensa de menos. Lágrimas engolidas pelos cantos da alma que não tem tempo pra sorrir, chorar, sentir. Mãe, irmã, filha, amante, dona de casa, esposa, profissional exemplo..." Relatos das várias mulheres que se escondem dentro de cada mulher, seu mundo, intocável para aqueles que só enxergam com os olhos da carne.

sábado, 16 de agosto de 2014

Varinha de condão

tenho cá comigo umas incertezas... 
um peito cheio nem sempre é gripe.
às vezes vazam fluídos violáceos
por todos os lados
num lago transbordante de luz
que a gente não consegue ver.

nadam bichos nos meus lagos,
uns bonzinhos outros não,
bichos que vou inventando e alimentando
e outros que, como vêm, vão.
são bichos de mim
que me fazem ser gente.

gente que furta cor e cria sorrisos
e que chora lágrimas de amor
gente que se inventa e não se entende,
que sorri e se alimenta e que dá a mão,
que flutua em bolhas de sabão.
e pesa toneladas quando os pés no chão

sou magia que vem e vai e
sou vida dura e vida real
sou sonho e sou pesadelo
e sou partes pra ser inteiro.
eu sou da energia do sol

domingo, 11 de maio de 2014

Meretriz

o sol queima em meu baixo ventre
fonte de calor primária do meu ser
meu sexo me impulsiona para a luz
acordo desejo e vou me deliciando de vida durante o dia
anoiteço molejo e vou me despindo em magia durante a noite

de dia meu corpo em curvas perigosas
exalando aromas entorpecentes
minha flor em pétalas desabrocha
atrai meu predador para uma refeição embriagante
mal sabe ele que em seus braços se torna caça

à noite preparo meu jantar
devoro as partes de meu cativo
bebo seu vinho e dele me enveneno
uma vez que me alimento por capricho de leoa
solto as correntes de minha fera e desapareço na rua

a Lua refresca minhas entranhas
pinta de branco meus líquidos
meu ventre se torna casa noturna
adormeço perfumando de luz os quartos escuros
amanheço orvalho em gotas de substâncias ilícitas

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Violeta

Com o coração gigante era estranho que aquele ser pudesse existir... Mais curioso ainda que pudesse ser encantador. Quanta beleza pode ser vista a olhos nus? Ali estava a prova de que beleza pode ser tão subjetiva quanto óbvia!

O coração pulsava forte, fazendo brilhar uma luz violácea em seu peito. Os seios fartos, como que se a Natureza em sua perfeição houvesse modelado a filha à sua imagem e semelhança. A marca da fertilidade da Mãe. 

Apesar de pequenina, os cabelos de fogo com a pele pálida e o corpo macio e carnudo faziam daquela a imagem de uma deusa. Esbelta, mesmo com corpo farto, ela flutuava em direção às pessoas sabendo exatamente a quem deveria se mostrar. E quando tocava essa criatura era como se a vida finalmente chegasse a um pobre coração que nunca soubera ser dotado de luz. 

Certamente aquela mulher não era como as outras... Nascera condenada por trazer dentro do peito um coração grande demais. Todo dia sua mãe agradecia com a pequena nos braços e a beijava como a um anjo, com respeito e cuidado. Assim ela aprendeu, em casa, no seio da mãe, que sempre lhe alimentou mais de amor que de comida em tempos de vacas magras.

Cresceu com muitos cuidados e ao mesmo tempo com a leveza de existir hoje e não fazer tantos planos pra um futuro sempre tão incerto... Talvez seja por isso que sua luz violeta se tornara capaz de iluminar corações a milhares de quilômetros de distância. Ou talvez seja apenas eu que, não entendendo tanto amor num só peito, tente encontrar uma explicação de acordo com meu conhecimento limitado sobre os mistérios que rondam a existência.

O fato é que ela me tocou. Senti uma forte atração quando caminhou em minha direção. Senti perfume de flores, um aroma doce, suave, inebriante. Era a mulher mais linda que já havia cruzado meu caminho. Aquela mulher poderia ser a encarnação da sensualidade do universo. Quando ela chegou ao alcance de minhas mãos, me olhou nos olhos e não disse nada. Fiquei imóvel. Ela pegou minha mão, afastou o lenço do peito e mergulhou meus dedos na carne macia que lhe protege o coração gigante. Eu chorei!  

No momento que ela me tocou com seu coração gigante, me perdi num clarão de luz violeta e senti se esvaírem de mim todas as feridas colecionadas ao longo de anos lidando com humanos tão adoráveis quanto cruéis. Rios de lágrimas nasciam em meus olhos, ela me deitou em seus braços, acariciou meus cabelos e cantou pra mim com a voz mais aveludada que já ouvi. Aí entendi o que estava acontecendo...

Ela fazia de mim cria em seu ninho. A verdade que acontecia ali era muito maior que o maior dos prazeres, muito mais libertadora que todos os elos de todas as correntes rompidos. Aquele coração imenso era capaz de sanar todas as minhas chagas e de me mostrar, como quem abre uma porta que sempre esteve ali, encoberta por umas bagunças, que nenhum mal agora seria capaz de atravessar a luz violeta que pra sempre carregaria também comigo. 

Ela me tocou... por muito tempo me perguntei porque foi até mim... Por muito tempo também não me importei mais com essa explicação. Muitas coisas ganham magia justamente por não sermos capazes compreender. Violeta me fez enxergar o mundo por lentes mágicas que me fizeram ver o caminho sem medos, sem obstáculos capazes de me derrubar. E assim eu cresci. Eu rompi barreiras, ganhei mundos que nem imaginava que pudessem existir.

E depois de todas as lições de cada dia, depois de cada batalha, eu voltava ao nosso ninho, e encontrava ali a força do amor. Mesmo que muitas vezes o único corpo ali estendido fosse o meu com a saudade, estava pra sempre com a energia lilás do amor. Aquele ninho era o meu lar e ali estava tudo que eu precisava para me completar em corpo e alma. 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A DANÇA


Às vezes tenho uma necessidade urgente de extravasar.
Às vezes meu corpo material é muito pequeno pra tudo que me atravessa.

Nessas horas eu danço!

Muitos outros exercícios poderiam suprir essa necessidade de transformação de energia. De manutenção de fluxo de vida.
Há, entretanto, no ato de dançar, todo um ritual que me transborda numa cachoeira quase divina de energia vital, que me preenche completamente e que me insere na minha posição adequada no Universo.

Eu sou um ponto minúsculo no Universo do Big Bang. Um grão de areia brilhante que habita um terceiro planeta de uma estrela qualquer que nem é tão grande assim... 
Minha natureza é de luz! É da mesma natureza dos elementos que formaram as estrelas que admiro no céu. Da mesma natureza, em sua devida proporção, das constelações e galáxias. Estas que dançam incessantemente no espaço infinito.

Minha energia também precisa de movimento. Meus quadris por vezes entram na órbita do meu ventre, ali onde se concentra a energia que gera vida. Minhas pernas obedecem à trajetória, meu corpo se contorce em movimentos rítmicos, voluntários, curvilíneos e rotacionais... Viro um pião, irradio calor. Devolvo ao Universo a energia que me foi enviada para que eu fosse capaz de sobreviver, mesmo nas mais árduas condições.

O Universo por sua vez me devolve luz e me preenche de novos fluxos de vida vindoura! Sejam quais forem as surpresas do caminho...

Seria muita presunção de minha parte supor que o Universo entra na minha dança. Gosto de fazer essa imagem em minha mente, todavia estou ciente de que acontece exatamente o inverso.

Quando fecho os olhos e me deixo ser levada por sons que me invadem e que me atravessam quase como sendo partes de mim, neste momento entro em sintonia não só com a música, mas com tudo que nos envolve. Com o ar, com a paisagem, com os fluxos de energia que são incessantemente trocados entre meu corpo e o todo que está à minha volta, às voltas de minha cidade, de meu país, de meu continente, de meu planeta, de minha galáxia...
Sou eu quem aceita o convite do Universo, quem lhe dá a mão gentilmente e permite que ele me conduza em piruetas mágicas e transcendentais, valsando entre as estrelas e absorvendo um pouco de suas luzes pelo caminho...

Sou bailarina sem sapatilhas, sem ter tomado aulas de dança, sem saber os passos apropriados. Minha coreografia é por intuição. Minha coreografia se dá pela sensação de ser parte deste todo. Meus movimentos são conduzidos e se devem ao não pensar, ao apenas me ver como parte deste conjunto, ao ato de permitir que o Universo me conduza e não o contrário. Não há escolhas, não há erros... Há apenas um caminho: aquele por onde sou levada através de toda a energia cósmica quando cerro os olhos e limpo a mente permitindo que me invada apenas o todo... Sem que nenhuma das partes o faça individualmente.

Transformo-me no que posso ser de maior quando, conduzida pelo Universo, lhe entrego as fitas da sapatilha para que ele me determine os passos...

E assim, brincando, o Universo me conduz em sua valsa e me devolve música e luz e me renova as energias vitais num ato do mais puro amor. É a prova de que mereço estar viva, de que cada passo dessa dança vale a pena e de que seres humanos são estrelas em suas próprias existências... eu sou e você também é. Portanto, dance!!!

terça-feira, 25 de março de 2014

LUNAR


era lunar.
seu olhar, seu sorriso, sua voz, sua pele
não por cor, mas por textura.

e você pergunta se já toquei a lua pra saber senti-la?
minha lua é assim! macia como pétalas em flor. e meio fria...
de uma frieza suave que poderia queimar em segundos.

aquela textura me acendia, me banhava de cor, me trazia vida! 
e era intocável! era apenas palpável numa dimensão alternativa em que os sentidos se fundem e o olhar pode tocar a tez 
e os ouvidos cheiram cada timbre da voz como seguissem as damas da noite a perfumar a escuridão com suas pequeninas saias brancas dançando suavemente na primavera .

seu olhar, um prateado mar tranquilo. tão límpido
era paradoxal... de uma profundidade devoradora.
sua voz era divina. só podia ser. voz que comanda, incontestável. 
de uma delicadeza que acaricia os ouvidos antes de penetrar som. 
me invade tão naturalmente que a única ação possível é sorrir... sorrir e obedecer automaticamente, quase como se absorvesse aquela voz como um pensamento meu...

seu sorriso guardava todas as estrelas do céu e o mistério do universo. trazia um sorriso brando. encantador, contagiante.
luz que irradia a serenidade de um anjo e esconde seus poderes mágicos. naquele quarto de lua minguante estavam as asas quebradas de quando caíra.

ah... e sua pele...  me fazia desejar banhar-me de lua. eternizar-me em gemidos nos quartos de seu céu.
em seus mares posso transbordar luz. e tudo que vejo e sinto e percebo me atravessa com energia celestial e com fortes cores pálidas me tingindo de paixão.

desejo intensamente enroscar-me nesta textura nua de luar... essa textura que me atravessa enquanto brinco e que me chove...
chove lunar

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Despetalada...


Por vezes tiro o dia, ou a noite, para fazer passeios em alguns de meus caminhos internos. Pego vias por onde não costumo andar, encontro algum entulho tentando invadir-me ruas e calçadas. Noutros pontos encontro espelhos que me refletem em versões diferentes, umas melhoradas, e outras obscuras ou obscenas... Reflexos de lados meus que nem sempre acredito que existam ou que às vezes eu prefiro fingir que não me pertencem.

Povoada como sou de várias de mim, me surpreendo ao me ver cantar em uns cantos, colorir outros e descolorir alguns. Limpar os trilhos aqui, entulhar canteiros ali... Numas vezes planto flores, noutras colho espinhos... Perfumes se misturam no ar... Sinto meus cheiros! Costumam ser bons, mas nem sempre.

Enquanto vou andando e me infiltrando num mundo que só cabe em mim e em mais ninguém, me surpreendo ao notar quantas se recolhem por aqui. Quantas coloridas me habitam! Ou será que se escondem em mim? Talvez me invadam...

Em algum lugar que não reconheço posso ouvir, ao longe, uma mulher chorando e gritando. Não a vejo, nem me encontro nela... estranho!
Por que ela chora e grita tanto? Sinto falta de ar ao ouvir seus gritos distantes, como que em outra dimensão. Talvez por isso não consiga entender... Será por isso? Por que não a reconheço... quem pode ser?

Ela grita dor. Grita como quem teve sua luz arrancada, sua primavera despetalada e não mais pudesse florir.

Por que não consigo vê-la? Essa é uma pergunta que me assusta. Será que quero mesmo saber?

Se a ouço quando me visito, não pode estar tão longe... tem que estar em mim! Continuo perambulando por minhas esquinas. Vejo velhas sapatilhas de bailarina com o cetim carcomido... Vejo sangue escorrendo de cantos impuros e vejo lágrimas se misturando à sujeira... Procuro e a sinto, mas não como uma de minhas flores...

"Apareça, pequena! Deixe pra traz a dor!" Peço gentilmente em pensamento - se a escuto é provável que ela também me ouça. Não quero que me diga porque chora, nem que mal lhe fizeram. Me anseia seu sorriso, sua leveza... Quero abrir-lhe os olhos. Sinto que as lágrimas lhe embaçam a magia diária do sol indo e vindo... as cores mágicas que nos transportam através dos tempos e colocam novas páginas pra nos afastar daquelas poluídas pela dor...

Não consigo entender o que acontece, parece que converso comigo mesma. Vejo-me, entretanto, em espelhos diversos, em formatos variados, alguns nunca vistos, novos... mas essa moça... Ela não é nova, é antiga e não tem meus olhos... é por isso que não entendo, que não a reconheço... É por essa razão que não a vejo. Ela não tem meu rosto e isso me intriga! Ali, onde não me vejo, sinto uma luz roubada. São os gritos que me contam isso.

Quero poder libertá-la, fazê-la enxergar-se e viver seu espelho, olhar-se nos olhos e permitir se desnudar para os olhos hipócritas... Não sei por que ela grita em mim e não em outra pessoa... Suponho que eu possa ajudá-la. Será presunção demais pra uma mulher tão habitada por meninas? Como poderei saber..?

Mesmo sem poder vê-la, sinto a sujeira que lhe escorre pelas pernas... e em meio a tanta dor vejo seu seio carregado, capaz de alimentar todas as crianças que precisam de amor, este que irradia de seu centro.

Como sei que em mim vivem em harmonia e desarmonia tantas mães e filhas, que cuidam de mim e de quem cuido, procuro encontrá-la, desejo encontrá-la, limpar-lhe os olhos como faria a uma filha e vestir-lhe com algo que inspire magia... E ser música para ela dançar. Dançar com as cores que transformam o dia em noite e a noite em dia...

- Dance, pequena, onde quer que esteja! Dance como se suas pernas pudessem transcorrer os tempos e buscar o espaço necessário entre o sorriso reluzente que podem carregar as meninas em seus olhos e o rio que insistentemente lhes tenta afogar...

Sigo entre caminhos através de mim, buscando lugares desconhecidos para desbravar... Ainda não consigo vê-la, mas sinto e como sinto, pego o que acredito ser uma parte do que a faz migalhas e tento levar comigo. Tento aliviar-lhe o fardo. Não sei se consigo, mas se ela me faz sentir, se ela me faz ouvir seus gritos, então minhas mãos e minhas mães podem tocá-la, cuidar dela e tentar escutar agora gargalhadas... Ou graçolejos, ou quem sabe umas cantigas de ninar, calmas como seu coração deseja estar.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

TRISKLE

Quando eu era uma menina, sozinha com meus botões, minhas cores e algumas dores, só queria fazer parte de um todo qualquer. Lutava bravamente por isso, embora meu todo muitas vezes mais se parecesse com um apanhado generoso de migalhas.

Assim, crescendo torta entre sentimentos incompreendidos e carícias incertas e inconstantes, ficou fácil achar que nunca, nunca estaria pronta pra me mover, fazer acontecer e especialmente amar... É como se todo dia de chuva fosse a queda de um mundo que chorava sobre mim sem me permitir jamais me construir por inteiro.

Quem haveria de comprar este pacote? Quem haveria de fazer com que este coração se abrisse e deixasse entrarem as crianças sorridentes, os meninos bons...? Quem seria capaz de rasgar-me em versos sem rimas, sem métrica, sem poesia prévia?

Escondida atrás de papéis, palavras e cores vibrantes eu deixava os sentimentos tristes sem respirar pra ver se assim eles morriam. O que eu poderia fazer com o medo, a tristeza, o amor reprimido sem objeto para direcioná-lo..? Quem habitava este ser confuso e sem destino previamente traçado? 

De que será que faziam parte esses meus pedaços ocultos? O que aconteceu com eles no decorrer dos anos? Eles não saíram de lá. Terão morrido? Terei conseguido assassiná-los? E se hoje o que me move não for mais o que me comove? Se o coração no peito não for mais carne, for outra coisa...

Corre em minhas veias sangue quente e vermelho, sangue de gente que ri e chora! Gente que sente medo e que caminha assim mesmo... Gente que tem uma estrada sob os pés, um céu imenso sobre a cabeça e milhares de sonhos sendo plantados pelo caminho.... às margens da estrada... 

O ontem e o amanhã não importam. Estou envolvida eternamente no hoje, como quem se depara com o espelho e ali vê a paisagem em movimento como numa janela de trem... Tudo é novo e lindo, tudo é cor e tudo se mostra por si e não por mim... e ainda assim eu estou ali, no centro! 

Talvez eu tenha que aprender comigo mesma o que o mundo não consegue transpor... Eu não sou mais a menina e isso é tão assustador quanto encantador!

Minhas ausências não me ocupam tanto espaço e umas pessoas apareceram para me enfeitiçar. 'Tem certas amizades que mais parecem um amor que se esqueceu de acontecer' não é mesmo..? E eu tenho uns amores pendentes que me ampliam o sorriso quando aparecem na janela e invadem meu espelho.

O sangue queima nas minhas veias, o calor acelera o coração e molha o corpo de carícias por dentro e por fora....Esses meus amores desencontrados me aquecem e fazem chover gotas de chocolate dentro de mim... gomas comestíveis, licores, vapores, odores.... É como alguém que se permite ser alimento quando preciso... e eu realmente adoro comer e ser comida!

Guardo em mim hoje a menina que fui, a mulher que me habita e a senhora que conduzirá com suas mãos envelhecidas o destino de meus dias entre cores, dores e amores... Eu e as todas que me habitam, somos seguidoras de um sistema que não nos permite sonhar! E de que matéria poderíamos ser senão de sonhos, de encantamentos e de feitiços?! 




Vivem dentro de mim uns sentimentos tortos... Circulam pelo meu presente umas cores velhas desbotadas e outras novas... E a magia que transpassa minhas partes escondidas cobre minha menina com véus e com guarda-chuvas que guardam as gotas mais preciosas e criam em meu peito uma poça atemporal.


Afinal, apesar de tudo, sou ela, e sou também aquela envelhecida que ainda não chegou. Somos uma sequencia ilógica dividida em uma infinidade de dias, mágicos ou não, acumulados uns sobre os outros através dos tempos, costurados pelos fios dourados de uma mesma essência!



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

LOUCA

Loucamente
Mente louca
Mente, tão louca.

Um pé no chão (só um)
as mãos pra cima enlaçadas no peito
e a cabeça no mundo da lua!


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

POESIA

Revirando poesias antigas, eis que me deparo com uma criação coletiva envolvendo um grupo muito familiarizado que compartilhou de uma fertilidade de ideias incrível nas mesas da pamonharia, ali do ladinho do Campus II da Universidade Federal de Goiás - UFG



POESIA

Nada, nada, o meu si não está disposto à poesia
Mas a palavra me hipnotiza, me desnuda
Ainda não veio, não estou inspirada hoje
Zap, 7 Copas, um truco agora
E eu tenho um quatro perfeito

- O meu Zap tá seco
- Impossível perder com 7 Copas
- Mas tem hora que não rende, não rende
- Ai, o jogo da vitória me derrota
- RITINHAAA!!! - Pausa pra pedir uma cerva!

(Co-autores: André Bragança, Carolina Gobbi, Liz Pimentel e a saudosa Luciana Sussuarana)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

BASTA!

Basta de ti
Basta de mim
Basta de nós
Basta de ti sem mim
Basta de mim sem ti
Basta de nós sem nós

Nossas pernas enlaçadas
amarradas, aos nós
Meus fios revoltos por ti
Teus rios correndo por mim
Nossos lagos num oceano

Basta de singular
Basta de desengano

Não mais só meus dedos brincando
Agora seus dedos por engano
e meus dedos, te explorando

Basta de pouco zelo
Basta de tanta farsa
Basta de tanto tempo
Agora deu! Agora basta!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

sábado, 25 de janeiro de 2014

O óbvio

Somos água de chuva empoçada na lama cinza do cotidiano. O tédio mora no mesmo:

O mesmo velho colchão... mesmo travesseiro...  mesmo cobertor... mesmo pijama... o mesmo programa de tv na madrugada pra tentar driblar a insônia - mais uma vez sem sucesso!


Os mesmos sapatos... mesmo café da manhã apressado... o mesmo olhar fixo no chão do elevador pra não ter q falar com o vizinho... o mesmo "bom dia" desinteressado pro colega de trabalho... 


A mesma expectativa de algo novo posta sobre os mesmos velhos hábitos!


A mesma sensação de rejeição quando aquele beijo demora demais e acaba não acontecendo (pelo menos ainda)... Enfim, o mesmo coração partido que tava lá desde o último amor findo... as mesmas decepções pelos mesmos velhos assuntos, e ainda assim, a mesma ansiedade fazendo o coração pular no peito quando um sorriso nos faz brilharem os olhos...


São os mesmos sentimentos, os mesmos comportamentos e as mesmas expectativas... como é que podemos esperar algo novo após a repetição incessante das mesmas ações???


E se de repente as coisas começassem a ser diferentes? E se algo atravessasse o óbvio e nos desse uma palmada na cara??? Nós iríamos revidar?


E se corrêssemos? Corrêssemos até não termos mais pernas... Se corrêssemos rasgando em nós as certezas..? saltando paradas obrigatórias..? seguindo além do nosso destino..?


E se seguíssemos como um rio que corre pro mar e sua lição, mais que chegar ao mar, é correr, sem parar, sem interromper seu percurso por causa de pedras ou de quedas..?


E se essa fosse a função de minhas pernas? de meus pensamentos? Correr sem questionar ou sem contar com a chegada. Apenas para atravessar tudo aquilo que se me coloca diante dos olhos....


É só quando conseguimos olhar diretamente para os olhos do óbvio que podemos ver que hoje NÃO é o MESMO dia de ontem. É nos despindo do que desejamos que percebemos que estamos sempre ganhando presentes do dia-a-dia:

É o mesmo colchão, mas a noite é única, e estes últimos sonhos lindos, também...

Um sonoro "BOM DIA!" no elevador me faz observar que o vizinho deixou uma linda barba cerrada...

Um cappuccino logo pela manhã pode agitar e colorir o ambiente de trabalho, e fazer as horas voarem como meus cabelos ao vento...

Deixar de esperar aquele sorriso pode me mostrar o brilho nos olhos de alguém que me observa sorrir e cantarolar...

Há uma infinidade de sentimentos esperando para imprimir alguma magia em nossas vidas se nós apenas olharmos pra fora, abrindo nossas portas e janelas e deixando a vida entrar enquanto corremos...

Eu corro!!! Corro do comum. Corro de encontro ao que se esconde no óbvio, para assim ganhar cores e olhos novos!!!


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Fascínio

"I'm here with chicken, chicken alive."
Um pensamento estrangeiro me invade na tarde vazia. Tarde nostálgica.
Galinhas andam pelo jardim ensinando seus pintos a subirem nas árvores para dormir.
No canteiro, flores vermelhas furtam cores amarelas, verdes e azuis.
O pôr do sol no horizonte é uma poesia perfeita e muda, que me toca profundamente.
Certos sentimentos exercem alguma fascinação sobre mim...

Fascinação: "teu olhar, tonto de emoção", em meu corpo-luz. Sedução!
Me faz lembrar dos contos de fadas que nunca vou viver.
Um príncipe-sapo... Uma princesa controversa... Cores tortas..!
Um açougueiro!! Sangue, muito sangue!!!
Uma história de amor é assassinada e vendida em partes.
Picanha, coxão duro, costelinha... Peito!

A morte não cai bem na fantasia... Wonderland!
...um garoto furta-cor que só existe no transe da menina cinza.
Cinza máscara! Cinza faz de conta que não me vê.
Muitas cores... Cores para furtar debaixo da roupa cinza...
...cores, mil cores ela vê nos dois espelhos que lhe despem.
Nudez difícil. Linda e incrivelmente esclarecedora.

Toda uma paleta de cores oculta!
Cores vivas, vibrantes, tímidas, mas com uma infinidade inesperada de tons.
Uma tarde tranquila, um alaranjado pôr do sol de quase Cerrado e
a luz de uma estrela tropical embalada por estrangeirismos.
"Cash! Could solve a lot of problems."
Mas acho que a luz queima nos corações sem pensar nisso.

Luz não pensa, brilha!
Brilha, irradia e reflete afastando sombras e fantasmas!
Brilha como os anjos que enfeitiçam os sonhos!
O sorriso do gato de Alice brilhando no céu quando a noite cai.
Banhando a terra de magia e de sentimentos lunares (Lunáticos?).
Que os loucos sejam louvados. Eles não têm vergonha de ser felizes!!!




segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Através dos Tempos

Tenho um acordo com meu passado, nem ele pensa em mim, nem eu perco meu tempo tentando resgatá-lo!

Foram anos de diálogo e de acusações, culpas e lágrimas, alguns sorrisos também, e umas gargalhadas, antes de chegarmos a este acordo. E foi bom: Nem eu fico revirando e cutucando ele nem ele insiste em me assombrar!

Alguns fantasmas por vezes me visitam e conversamos um pouco, ou discutimos... todavia sempre posso saber que serão breves visitas. Eles não me pertencem, nem ao meu presente... Sou eu quem os permito! Pode parecer um pouco triste, entretanto sei que eles também sentem solidão. Acabamos por nos consolar.

Tenho também anjos que vêm me ver. Alguns do passado, mas os mais frequentes são os do presente. Carrego um carinho especial por aqueles que perduram através dos tempos. São pontos de luz em meu caminho, que me expõem às minhas próprias cores de estrela.

Mesmo assim, só quem dialoga comigo de fato é o Presente, esse lindo, ligeiro, intenso e movimentado presente. Por vezes até sereno, muitas vezes agitado, às vezes desconhecido, noutras, deliciosamente comum, pra variar, e em alguns momentos, nem comum nem delícias, simplesmente meu tempo. Tenho nele tintas, pincéis, carvão, espátulas, todo o material que quiser usar para desenhá-lo no que ainda existir de espaço nu...

Digo no que houver de "espaço nu", porque nele há cores, manchas e marcas de passado. umas mais intensas e outras sombreadas, lembrando que por ali atravessaram alguns corações. Mesmo assim, há sempre um espaço a colorir porque o futuro vem acrescentando mais folhas brancas para serem construídas no decorrer de um tempo que só existe quando chega e acontece.

Meu futuro é um senhor desconhecido que nunca encontro e a quem às vezes dou ouvidos. É uma pintura em movimento contínuo que há algum tempo descobri que nem sempre serei capaz de coordenar. Ainda assim, em presente, gosto de me encher de tinta e preparar vários pincéis diferentes pra poder criar texturas interessantes e imagens novas incríveis. Ao final, meu pincel não faz a tela do futuro, eu pinto meu sonho ciente de que ele talvez desbote um pouco ao se tornar realidade

Pinto meu futuro com as cores radiantes que me trazem os anjos, afinal como ele ainda não é, pode ter as cores e texturas que eu bem escolher. Quero as melhores, as mais brilhantes, as mais vivas, em composições mágicas! Assim posso ser conto de fadas de vez em quando... Só pra não deixar as fumaças de um passado triste ou de um infortúnio inesperado me acinzentarem os sonhos!

Passado? Presente? Futuro?




Do passado: a lição, o aprendizado, o amadurecimento forçado.
Do presente: a atenção, o foco, o exercício diário da atitude, agora calculada.
Do futuro: a tela mágica que muda de cor todo dia pelas cores dos meus pincéis, o conto de fadas, e a vontade interminável de tornar real o belo sonhado.

Que me venham novas cores!