CANTO E LÁGRIMA: VIDA INTENSA E NÃO REGIDA

"Regida demais, intensa de menos. Lágrimas engolidas pelos cantos da alma que não tem tempo pra sorrir, chorar, sentir. Mãe, irmã, filha, amante, dona de casa, esposa, profissional exemplo..." Relatos das várias mulheres que se escondem dentro de cada mulher, seu mundo, intocável para aqueles que só enxergam com os olhos da carne.

domingo, 15 de dezembro de 2013

3º Ensaio sobre as cores: Cores vivas I

Tem umas cores que ficam por mais tempo, que brilham mais, que deixam tudo mais vivo. E que nem precisam ser cores claras... 
Cor de chocolate! Cor de morango com chocolate.....




Uhmm..! Variações de sabor com intensidade de quase provocação! 
Aquele cheirinho adocicado de fruta fresca, o gosto um tanto acre por dentro com um toque lascivo de pecado... o verde: lembrando que marrom é terra fértil, que vida tá em todo lugar, e que vermelho é energia que pulsa!

Bum bum bum!

Cores vivas, cores fortes, cores que inspiram o lado mais bonito de cada encantamento.
Ter uns vermelhos tom de pôr do sol é carregar em tinta um pouco de amor pra distribuir em gotas...

Ah, esse mundo de colorir com magia! 
Umas cores tomam vida e brincam de ciranda em matizes contagiantes!!!

Blam blem blum! 

Cores encarnadas, com gosto de frutas, invadem as telas por onde transito deixando rastros de sabor... ao tempo que marcam o caminho encantado.
Tudo se constrói na calmaria do vento que nasce das asas da borboleta aprendendo a voar!

Pó de pirlimpimpim!

Por onde ela passa, uma trilha luminosa se faz e cores mágicas tomam conta de mim! Estas cores vibram, ultrapassam, saboreiam e são saboreadas em caminhos que se atravessam no infinito.

Paralelas de brilho imenso.

Tão certo quanto não se cruzam elas nem vão nem ficam, é como se sempre ali estivessem como se sempre voassem juntas. 
Elas mudam de cor quando se percebem.
É como se, enquanto borboletas, uma se visse nas asas da outra e uma se visse nas cores vivas da outra e isso lhes iluminasse... como se essa luz que sempre lhes pertenceu voltasse-lhes com cheiro de flores...

Cores de alegria e prazer... tons de vida com sabor... tintura que toma conta e que furta-cor pra somar!

Vermelho é vida que contagia e que traz risadas, que enfeita anjos sem asas e que faz amanhecer.
Raio de sol que aquece o coração, gosto de morango que cresce na terra e sai dela com gotas de chocolate pra ver o sonho envolver... só pra fazer sonhar!

Cores vivas... Taí uma metáfora em flor: Morango com chocolate! !

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

só de brincadeira...




busco-me inteira nos pedaços
que multiplico em palavras cruzadas
palavras de jogos de tabuleiro
brinquedos pra compartilhar

mania de esconde-esconde
em noites escuras nada sombrias
sorrisos gargalhando em segredo
e as pontas dos dedos roubando delícias

olhar maroto, fotos, gemidos
palavras perdidas: vocabulário
palavras benditas: verbos obscenos
...e nossos corpos se contorcendo

ciranda de roda, samba no pé
movimentos lúbricos de bailarina
bambolê em corpo de mulher
não é brinquedo de menina

contos, crônicas, roteiros
histórias incríveis pra contar
corpos que não se pertencem
entrelaçados em rodopios pelo ar






quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Minha menina triste...

          Entre todas essas mulheres que me povoam, tenho algumas mais presentes e mais intensas, tenho outras que se mostram mais e há em mim umas poucas que se escondem incessantemente. 
Nem por isso, entretanto, elas são menos fortes. Talvez sua força até assuste, porque faz lembrar que elas estão lá. 
E tem mais: elas nem sempre são bonitas... 

Minhas bonitas gostam de ser vistas! 

Essas, desconstruídas pelos acontecimentos, se recolhem entre ruínas, com cicatrizes e medo... 
Olhos de bicho perdido. Mãos secas, grossas, ágeis por precisarem ser rápidas. Cabelos arrepiados enrolados num quase nó. A pele meio parda, queimada. Os ombros encolhidos, o corpo, ora esguio, experimentando curvas perigosas...

Uma dessas pequenas, em especial, traz como carma, a memória... 
Pobre menina crescida..! Carrega todas as marcas dos caminhos mal escolhidos. Mal se lembra dos sorrisos. A boca espremida não experimenta há muito os músculos das maçãs. 
Em seus olhos, as meninas andam sempre penduradas tentando segurar, em grandes bolsas, as lágrimas que correm sem parar, criando uma geografia interessante na pele seca do rosto: terra rachada, antes cortada pelo bafo frio e por palavras afiadas. Agora suas frestas servem de leito para a água quente que desce!

É sua função carregar o peso! É seu fardo, sua bagagem inevitável, é o que ela acredita que tem que levar, é pra isso que acha que veio: pra ser o esteio de toda a dor, de toda a mágoa, de todas as feridas que uma alma pode carregar... 
Missão árdua pra uma menina assumir!

Volta e meia posso ouvir seus gritos, cansada de se reprimir, cansada de calar aos solavancos da vida. Grita alto. Cala os outros pensamentos e suas meninas bombardeiam os olhos de cá...

Depois cala novamente, absorta, concentrada em reunir todas as feridas num ponto, decidida a carregar todas as mágoas para que assim, nós, as outras todas que me povoam, possamos exibir a alegria, o sorriso, a graça, a força, a virtude, a leveza... e tentar, mesmo que nem sempre funcione, proteger aquela tão triste pequena, que é também um pedaço de nós. 


Ela faz cada sorriso valer mais. Ela faz nossos passos curtos e ritmados flutuarem na velocidade do amor. Faz nossas guerreiras saírem em Cruzadas quase sagradas, em busca de algo um pouco diferente de um copo, mas em que caberiam infinitas lágrimas e a menina triste enfim poderia cuidar dos cabelos e avermelhar aquelas maçãs, poderia ganhar cores e deixar o cinza pro céu dos dias nublados em que a tristeza da natureza nos banha e lava nossa alma de toda e qualquer sujeira acumulada pelo tempo...

Minha menina triste é a detentora de todas as marcas mas é por ela, e justamente por sua força, que todas as outras que me povoam se fazem fortaleza!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

GRITO



Grita dentro dele
Ele não escuta
não grita junto
Ele cala!

Cala desesperado
Cala aos olhos arregalados
de um bicho invadido

Grita e berra tão alto
Tão louco, tão frouxo
Tão dentro de tudo
que não lhe cabe
que não lhe cobre

E o frio de dentro mata
E nase mudo
E nasce o silêncio!

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

2º Ensaio sobre as cores: Cores mortas I

      

                  É muito comum ser tomado por um sentimento desagradável. Isso faz a gente mudar de cor e tomar nuances indesejadas. Cor de vômito, amarelo-escárnio emaranhado em tons de verde-catarro. Quase da cor da tuberculose. Consegue imaginar? Agora imagina as pessoas que te trataram com egoísmo, despeito e cinismo mergulhadas numa piscina desses fluidos viscosos... Dá até um prazerzinho momentâneo, não?!

               Isso acontece porque você também é um pouco mau, meu jovem, minha querida..! Você também é um pouco verde-musgo-amarelo-pálido. Ter cores mortas faz parte de qualquer paleta e somos muitas tonalidades para conseguirmos sobreviver aos mesmos traços mal desenhados se repetindo incessantemente no calendário de colorir.

               Difícil manter as cores antigas ou brilhar novas em situações  de clássica censura de matizes... Talvez um vermelho-ira tome conta inicialmente, assumindo tons roxo-esfumaçados pra não cortar gargantas! Seguindo, então, para tons amarronzados de degeneração, até alcançar os tons verde-catarro-vomitado-malhado-de-amarelo-doente que envolvem o corpo e o ambiente numa dança interminável de ressentimentos.

               Desagradável se imaginar dançando infinitamente nessas cores. Elas se formaram ao seu redor quando deixou o outro, o pálido, o sem cor, o sem brilho, o pequeno e inferior espírito de porco, te descolorir. 

          É nessa hora que você escolhe, e sabiamente se põe a correr, primeiro, e depois a andar longamente, e por fim se acalma, se desprende do árido verde e se depara com o azul, com a tranquilidade eterna do céu: o brilho contagiante do sol em horários de chegada e partida, o dourado-encarnado-róseo-encantador que domina antes da escuridão roxa quase preta que fica do outro lado do dia. 

               E aí você percebe que de tantas cores no mundo, de tantas tonalidades diferentes, é uma escolha ficar mergulhado no verde-amarelo-escarrado e, assim, abandona a cor que não lhe faz parte da paleta. Sua paleta tem a infinidade de cores que o seu coração mandar! Agora, se ele te manda ser um sem-cor... Isso também faz parte da dança. Só peço que não me  chame pra dançar! 

          Tenho minhas próprias cores mortas...!