CANTO E LÁGRIMA: VIDA INTENSA E NÃO REGIDA

"Regida demais, intensa de menos. Lágrimas engolidas pelos cantos da alma que não tem tempo pra sorrir, chorar, sentir. Mãe, irmã, filha, amante, dona de casa, esposa, profissional exemplo..." Relatos das várias mulheres que se escondem dentro de cada mulher, seu mundo, intocável para aqueles que só enxergam com os olhos da carne.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Minha menina triste...

          Entre todas essas mulheres que me povoam, tenho algumas mais presentes e mais intensas, tenho outras que se mostram mais e há em mim umas poucas que se escondem incessantemente. 
Nem por isso, entretanto, elas são menos fortes. Talvez sua força até assuste, porque faz lembrar que elas estão lá. 
E tem mais: elas nem sempre são bonitas... 

Minhas bonitas gostam de ser vistas! 

Essas, desconstruídas pelos acontecimentos, se recolhem entre ruínas, com cicatrizes e medo... 
Olhos de bicho perdido. Mãos secas, grossas, ágeis por precisarem ser rápidas. Cabelos arrepiados enrolados num quase nó. A pele meio parda, queimada. Os ombros encolhidos, o corpo, ora esguio, experimentando curvas perigosas...

Uma dessas pequenas, em especial, traz como carma, a memória... 
Pobre menina crescida..! Carrega todas as marcas dos caminhos mal escolhidos. Mal se lembra dos sorrisos. A boca espremida não experimenta há muito os músculos das maçãs. 
Em seus olhos, as meninas andam sempre penduradas tentando segurar, em grandes bolsas, as lágrimas que correm sem parar, criando uma geografia interessante na pele seca do rosto: terra rachada, antes cortada pelo bafo frio e por palavras afiadas. Agora suas frestas servem de leito para a água quente que desce!

É sua função carregar o peso! É seu fardo, sua bagagem inevitável, é o que ela acredita que tem que levar, é pra isso que acha que veio: pra ser o esteio de toda a dor, de toda a mágoa, de todas as feridas que uma alma pode carregar... 
Missão árdua pra uma menina assumir!

Volta e meia posso ouvir seus gritos, cansada de se reprimir, cansada de calar aos solavancos da vida. Grita alto. Cala os outros pensamentos e suas meninas bombardeiam os olhos de cá...

Depois cala novamente, absorta, concentrada em reunir todas as feridas num ponto, decidida a carregar todas as mágoas para que assim, nós, as outras todas que me povoam, possamos exibir a alegria, o sorriso, a graça, a força, a virtude, a leveza... e tentar, mesmo que nem sempre funcione, proteger aquela tão triste pequena, que é também um pedaço de nós. 


Ela faz cada sorriso valer mais. Ela faz nossos passos curtos e ritmados flutuarem na velocidade do amor. Faz nossas guerreiras saírem em Cruzadas quase sagradas, em busca de algo um pouco diferente de um copo, mas em que caberiam infinitas lágrimas e a menina triste enfim poderia cuidar dos cabelos e avermelhar aquelas maçãs, poderia ganhar cores e deixar o cinza pro céu dos dias nublados em que a tristeza da natureza nos banha e lava nossa alma de toda e qualquer sujeira acumulada pelo tempo...

Minha menina triste é a detentora de todas as marcas mas é por ela, e justamente por sua força, que todas as outras que me povoam se fazem fortaleza!

2 comentários:

asenat disse...

Profundo demais!!! Que todas se unam e tragam equilíbrio e felicidade a vc! Bjs

Canto e Lágrima disse...

Todas somos muitas ;)