CANTO E LÁGRIMA: VIDA INTENSA E NÃO REGIDA

"Regida demais, intensa de menos. Lágrimas engolidas pelos cantos da alma que não tem tempo pra sorrir, chorar, sentir. Mãe, irmã, filha, amante, dona de casa, esposa, profissional exemplo..." Relatos das várias mulheres que se escondem dentro de cada mulher, seu mundo, intocável para aqueles que só enxergam com os olhos da carne.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Despetalada...


Por vezes tiro o dia, ou a noite, para fazer passeios em alguns de meus caminhos internos. Pego vias por onde não costumo andar, encontro algum entulho tentando invadir-me ruas e calçadas. Noutros pontos encontro espelhos que me refletem em versões diferentes, umas melhoradas, e outras obscuras ou obscenas... Reflexos de lados meus que nem sempre acredito que existam ou que às vezes eu prefiro fingir que não me pertencem.

Povoada como sou de várias de mim, me surpreendo ao me ver cantar em uns cantos, colorir outros e descolorir alguns. Limpar os trilhos aqui, entulhar canteiros ali... Numas vezes planto flores, noutras colho espinhos... Perfumes se misturam no ar... Sinto meus cheiros! Costumam ser bons, mas nem sempre.

Enquanto vou andando e me infiltrando num mundo que só cabe em mim e em mais ninguém, me surpreendo ao notar quantas se recolhem por aqui. Quantas coloridas me habitam! Ou será que se escondem em mim? Talvez me invadam...

Em algum lugar que não reconheço posso ouvir, ao longe, uma mulher chorando e gritando. Não a vejo, nem me encontro nela... estranho!
Por que ela chora e grita tanto? Sinto falta de ar ao ouvir seus gritos distantes, como que em outra dimensão. Talvez por isso não consiga entender... Será por isso? Por que não a reconheço... quem pode ser?

Ela grita dor. Grita como quem teve sua luz arrancada, sua primavera despetalada e não mais pudesse florir.

Por que não consigo vê-la? Essa é uma pergunta que me assusta. Será que quero mesmo saber?

Se a ouço quando me visito, não pode estar tão longe... tem que estar em mim! Continuo perambulando por minhas esquinas. Vejo velhas sapatilhas de bailarina com o cetim carcomido... Vejo sangue escorrendo de cantos impuros e vejo lágrimas se misturando à sujeira... Procuro e a sinto, mas não como uma de minhas flores...

"Apareça, pequena! Deixe pra traz a dor!" Peço gentilmente em pensamento - se a escuto é provável que ela também me ouça. Não quero que me diga porque chora, nem que mal lhe fizeram. Me anseia seu sorriso, sua leveza... Quero abrir-lhe os olhos. Sinto que as lágrimas lhe embaçam a magia diária do sol indo e vindo... as cores mágicas que nos transportam através dos tempos e colocam novas páginas pra nos afastar daquelas poluídas pela dor...

Não consigo entender o que acontece, parece que converso comigo mesma. Vejo-me, entretanto, em espelhos diversos, em formatos variados, alguns nunca vistos, novos... mas essa moça... Ela não é nova, é antiga e não tem meus olhos... é por isso que não entendo, que não a reconheço... É por essa razão que não a vejo. Ela não tem meu rosto e isso me intriga! Ali, onde não me vejo, sinto uma luz roubada. São os gritos que me contam isso.

Quero poder libertá-la, fazê-la enxergar-se e viver seu espelho, olhar-se nos olhos e permitir se desnudar para os olhos hipócritas... Não sei por que ela grita em mim e não em outra pessoa... Suponho que eu possa ajudá-la. Será presunção demais pra uma mulher tão habitada por meninas? Como poderei saber..?

Mesmo sem poder vê-la, sinto a sujeira que lhe escorre pelas pernas... e em meio a tanta dor vejo seu seio carregado, capaz de alimentar todas as crianças que precisam de amor, este que irradia de seu centro.

Como sei que em mim vivem em harmonia e desarmonia tantas mães e filhas, que cuidam de mim e de quem cuido, procuro encontrá-la, desejo encontrá-la, limpar-lhe os olhos como faria a uma filha e vestir-lhe com algo que inspire magia... E ser música para ela dançar. Dançar com as cores que transformam o dia em noite e a noite em dia...

- Dance, pequena, onde quer que esteja! Dance como se suas pernas pudessem transcorrer os tempos e buscar o espaço necessário entre o sorriso reluzente que podem carregar as meninas em seus olhos e o rio que insistentemente lhes tenta afogar...

Sigo entre caminhos através de mim, buscando lugares desconhecidos para desbravar... Ainda não consigo vê-la, mas sinto e como sinto, pego o que acredito ser uma parte do que a faz migalhas e tento levar comigo. Tento aliviar-lhe o fardo. Não sei se consigo, mas se ela me faz sentir, se ela me faz ouvir seus gritos, então minhas mãos e minhas mães podem tocá-la, cuidar dela e tentar escutar agora gargalhadas... Ou graçolejos, ou quem sabe umas cantigas de ninar, calmas como seu coração deseja estar.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

TRISKLE

Quando eu era uma menina, sozinha com meus botões, minhas cores e algumas dores, só queria fazer parte de um todo qualquer. Lutava bravamente por isso, embora meu todo muitas vezes mais se parecesse com um apanhado generoso de migalhas.

Assim, crescendo torta entre sentimentos incompreendidos e carícias incertas e inconstantes, ficou fácil achar que nunca, nunca estaria pronta pra me mover, fazer acontecer e especialmente amar... É como se todo dia de chuva fosse a queda de um mundo que chorava sobre mim sem me permitir jamais me construir por inteiro.

Quem haveria de comprar este pacote? Quem haveria de fazer com que este coração se abrisse e deixasse entrarem as crianças sorridentes, os meninos bons...? Quem seria capaz de rasgar-me em versos sem rimas, sem métrica, sem poesia prévia?

Escondida atrás de papéis, palavras e cores vibrantes eu deixava os sentimentos tristes sem respirar pra ver se assim eles morriam. O que eu poderia fazer com o medo, a tristeza, o amor reprimido sem objeto para direcioná-lo..? Quem habitava este ser confuso e sem destino previamente traçado? 

De que será que faziam parte esses meus pedaços ocultos? O que aconteceu com eles no decorrer dos anos? Eles não saíram de lá. Terão morrido? Terei conseguido assassiná-los? E se hoje o que me move não for mais o que me comove? Se o coração no peito não for mais carne, for outra coisa...

Corre em minhas veias sangue quente e vermelho, sangue de gente que ri e chora! Gente que sente medo e que caminha assim mesmo... Gente que tem uma estrada sob os pés, um céu imenso sobre a cabeça e milhares de sonhos sendo plantados pelo caminho.... às margens da estrada... 

O ontem e o amanhã não importam. Estou envolvida eternamente no hoje, como quem se depara com o espelho e ali vê a paisagem em movimento como numa janela de trem... Tudo é novo e lindo, tudo é cor e tudo se mostra por si e não por mim... e ainda assim eu estou ali, no centro! 

Talvez eu tenha que aprender comigo mesma o que o mundo não consegue transpor... Eu não sou mais a menina e isso é tão assustador quanto encantador!

Minhas ausências não me ocupam tanto espaço e umas pessoas apareceram para me enfeitiçar. 'Tem certas amizades que mais parecem um amor que se esqueceu de acontecer' não é mesmo..? E eu tenho uns amores pendentes que me ampliam o sorriso quando aparecem na janela e invadem meu espelho.

O sangue queima nas minhas veias, o calor acelera o coração e molha o corpo de carícias por dentro e por fora....Esses meus amores desencontrados me aquecem e fazem chover gotas de chocolate dentro de mim... gomas comestíveis, licores, vapores, odores.... É como alguém que se permite ser alimento quando preciso... e eu realmente adoro comer e ser comida!

Guardo em mim hoje a menina que fui, a mulher que me habita e a senhora que conduzirá com suas mãos envelhecidas o destino de meus dias entre cores, dores e amores... Eu e as todas que me habitam, somos seguidoras de um sistema que não nos permite sonhar! E de que matéria poderíamos ser senão de sonhos, de encantamentos e de feitiços?! 




Vivem dentro de mim uns sentimentos tortos... Circulam pelo meu presente umas cores velhas desbotadas e outras novas... E a magia que transpassa minhas partes escondidas cobre minha menina com véus e com guarda-chuvas que guardam as gotas mais preciosas e criam em meu peito uma poça atemporal.


Afinal, apesar de tudo, sou ela, e sou também aquela envelhecida que ainda não chegou. Somos uma sequencia ilógica dividida em uma infinidade de dias, mágicos ou não, acumulados uns sobre os outros através dos tempos, costurados pelos fios dourados de uma mesma essência!



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

LOUCA

Loucamente
Mente louca
Mente, tão louca.

Um pé no chão (só um)
as mãos pra cima enlaçadas no peito
e a cabeça no mundo da lua!


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

POESIA

Revirando poesias antigas, eis que me deparo com uma criação coletiva envolvendo um grupo muito familiarizado que compartilhou de uma fertilidade de ideias incrível nas mesas da pamonharia, ali do ladinho do Campus II da Universidade Federal de Goiás - UFG



POESIA

Nada, nada, o meu si não está disposto à poesia
Mas a palavra me hipnotiza, me desnuda
Ainda não veio, não estou inspirada hoje
Zap, 7 Copas, um truco agora
E eu tenho um quatro perfeito

- O meu Zap tá seco
- Impossível perder com 7 Copas
- Mas tem hora que não rende, não rende
- Ai, o jogo da vitória me derrota
- RITINHAAA!!! - Pausa pra pedir uma cerva!

(Co-autores: André Bragança, Carolina Gobbi, Liz Pimentel e a saudosa Luciana Sussuarana)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

BASTA!

Basta de ti
Basta de mim
Basta de nós
Basta de ti sem mim
Basta de mim sem ti
Basta de nós sem nós

Nossas pernas enlaçadas
amarradas, aos nós
Meus fios revoltos por ti
Teus rios correndo por mim
Nossos lagos num oceano

Basta de singular
Basta de desengano

Não mais só meus dedos brincando
Agora seus dedos por engano
e meus dedos, te explorando

Basta de pouco zelo
Basta de tanta farsa
Basta de tanto tempo
Agora deu! Agora basta!