CANTO E LÁGRIMA: VIDA INTENSA E NÃO REGIDA

"Regida demais, intensa de menos. Lágrimas engolidas pelos cantos da alma que não tem tempo pra sorrir, chorar, sentir. Mãe, irmã, filha, amante, dona de casa, esposa, profissional exemplo..." Relatos das várias mulheres que se escondem dentro de cada mulher, seu mundo, intocável para aqueles que só enxergam com os olhos da carne.

domingo, 1 de novembro de 2015

cores e flores



De longe bem de perto 
a gente pode ver
tudo mudar de cor. 

É olhando sem tentar ver 
que o cinza quebra 
o preto no branco 
e avermelha os tons 
dourados do amanhecer. 

Quando nasce a estrela lá fora,
 o sol queima por dentro 
e tons antes violetas violentos 
enfim lavandam lilases 
e florescem furtando cores
das jardineiras mais bem cuidadas. 

Rosas... Gerânios... 
Margaridas amarelas 
treinando para serem girassóis...

A luz amarela, quente, 
acolhedora abraça as almas 
como a estrelas que reconhece nelas 
e ali semeia o terreno para que 
com as lágrimas de orvalho 
em cada manhã, 

todo entardecer seja a certeza 
de que germinam cores 
em uma nova paleta de flores 
com as luzes radiantes 
que só as almas plenas 
de amor podem gerar.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Valsa no Céu


Toda essa ternura, 
esse imenso mar lilás, 
faz o coração 
palpitar dentro do peito. 

E a alma, 
essa ingênua viajante de energia, 
invade corpos a que quer pertencer, 
provoca magia e prazer,  encanta 
e se perde no caminho de volta.

Ah, essa alma cigana! 
Não sabe que essa mistura 
de essências é perigosa. 

Ela quer ser todas
as suas vidas em uma só, 
numa esquizofrenia de existências. 

Se perde em reencontros estelares 
e muda de rua 
pra evitar cruzamentos perigosos...

Ela baila com o universo 
entre passos ensaiados 
e improvisos saltados, 
numa valsa sem fim.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Confissão de uma bonequinha


      Lembro de dizer como adorava te ver chegar. Tinha um sorriso radiante que iluminava o olhar com estrelas. Tinha esse jeito doce de encantar meus dias com pequenas gentilezas. Aí veio a incerteza e te vi partir sem mais poder te ver chegar.
      Como pode alguém estar tão presente na ausência? Tenho lido que a espécie humana é criadora de histórias, que a imaginação está em nós tão intrínseca que não somos capazes de discernir o que é realidade do que é ficção em nossas vidas. Minha realidade é dotada de historinhas, devo confessar que tenho uma certa sedução pela melancolia e muito medo, paranoia natural pra uma espécie amaldiçoada com a consciência de sua própria morte.
      Nessa de tudo ser ficção, ainda assim preciso aceitar a realidade de que você imagina que ficar longe de mim é a melhor história que você pode inventar. Dá licença de te ter como meu coadjuvante?

(SILÊNCIO)

      O que acontece é que aqui nesta confissão eu apenas imagino que desejo de volta o sonho que vivi. Isso não é passado, nem é futuro e nem presente... É só mais uma história que fica circulando pela cabeça e distraindo do agora. E agora?
      Agora eu faço o artesanato que você deixou. Foco. Centro. Equilíbrio. E você. Do mesmo jeito que esteve comigo quando não dormimos juntos. Que correu e salvou meu gatinho pra não me ver chorar. Você que mora nas nuvens, chora na chuva e sorri ao pôr do sol. Você que me apareceu em um sonho aos pés da montanha mágica. Você que partiu sem nunca me deixar e sem nunca sair por completo. Você que sempre vai me relacionar ao Paraíso e que vai sorrir e vai chorar e vai ter tambores no peito se um dia ler esse texto...
      Saudade também é amor!

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

IARA


Menina dos cabelos de cachoeira
quem foi que colocou estrelas
nesses olhos de chocolate?
Serão estes lábios de favos de mel?
As maçãs de teu rosto
adormeceriam Branca de Neve
E que pecado essa pele...
de um dourado canelado
perfeitamente aromatizado
pelas flores da primavera,
todas as brancas e as amarelas.
Cantas aos meus ouvidos 
quando contas tuas histórias
E teu corpo é meu ninho
onde, humano, quero morrer passarinho.

Se você já não existisse, menina
assim linda, assim doce, assim minha
eu teria que te inventar
e te tocar como melodia

ANJO CAÍDO



Um dia de céu nublado
O coração parou de bater
Mas ao invés de morrer
Caiu do céu pra ser achado

Na terra viveu sem emoção
Esquecido de sua essência
Tentando encontrar salvação
Em sua própria decadência

Anjo do Céu conheceu o mal
Andou por entre as pedras
Se infiltrou por entre trevas
Anjo caído das nuvens
Descobriu que na escuridão
Ainda lá não há sombra sem luz
Ainda ali existe coração.



sábado, 4 de julho de 2015

A CRIANÇA E A ÁGUIA

  Um dia de cada vez a gente vai vendo o mundo girar, a estrela brilhar, a vida acontecer. Em algumas dessas voltas tudo é luz e em outras, escuridão.
  Caminhando pelas sombras sobe um frio no peito, um vazio de energia que sufoca. Respirando sol, bebendo chuva, acinzentando a paisagem dos dias mais azuis, a gente segue se sentindo menor e confrontando a criança malcriada que resistiu aos anos.
  Ela grita, chora e pede colo, apesar das exigências do mundo. Criança que tem que aprender a ouvir NÃO e a perder o brinquedo de que não soube cuidar.
  A pressa e a ansiedade impedem a gente de ver com clareza a infinidade de eus que compõem cada um. Vários eus coexistindo, formando um só, como tudo no Universo. Dividido e integrado, maduro e infantil, forte e frágil, minúsculo e gigantesco, um paradoxo humano...
  "Decifra-me ou te devoro". Quando essa é a interrogação, a resposta está numa outra profundidade. Num mergulho sem paraquedas ao vazio interior. Uma queda livre que sai resgatando os vários eus numa só essência.
  Nesse resgate a queda também é vôo, permitindo o contato sincero e nu com todas as vulnerabilidades e com todas as fortalezas que formam cada imperfeição. É quando um ser humano consegue ser sua própria águia. Num vôo solitário e atento, com os olhos precisos aos detalhes e aos menores movimentos.
 
Talvez ser uma águia a observar a própria caminhada permita o vôo com mais liberdade do que sonha a criança malcriada. É preciso ter coragem para saltar e acreditar que vai voar.
  Você sabe voar?