Aline Fernanda
Noite fria, céu cheio de nuvens.
Um cálice de uma bebida qualquer.
Morangos e velas sobre a mesa.
O cinzeiro já transborda.
Torno a encher o cálice.
Os sapatos já estão em algum canto qualquer do cômodo.
As ligas já soltei da meia, o nó da gravata já desatei.
O batom, ficou na borda do cálice.
Encho de morangos o cálice.
Recosto-me no móvel...
Uma brisa suave brinca com as chamas da vela e dissipa a fumaça de cigarro, vela e incenso...
Algumas folhas de papel estão soltas pela mesa...
O papel me aponta o lápis...
Tomo-os...
E sou tomada...
Sob esta luz dançante vou deslizando as mãos sobre o papel e deixo-me levar...
E as lembranças surgem...
Os sentimentos vão, um a um, desvendando-se como um quebra-cabeças com vida própria e, de repente, me pego, com as mãos ainda deslizando sobre o papel, a imaginar seu olhar.
Como me contemplaria? Como seria o brilho dos seus olhos ao ver-me entregando-me a você e, pouco a pouco, revelando o que a tanto custo afasto de seu alcance...
Meus olhos conversam com os seus como se eu fora mera expectadora e marionete desta cena.
Deixo-me levar e vou deixando que o vento me conduza numa dança despretenciosa e leve...
E nesta dança meu corpo com o seu... ambos diretores destes movimentos...
Eu e você... é já considero isto, mesmo achando engraçado e pensando como consegui protelar por tanto tempo que este desejo aflorasse...
Tomei o cálice novamente, sorvi mais daquela bebida, acendi mais um cigarro...
E a companhia já não está mais aqui.