Às vezes tenho uma necessidade
urgente de extravasar.
Às vezes
meu corpo material é muito pequeno pra tudo que me atravessa.
Nessas
horas eu danço!
Muitos
outros exercícios poderiam suprir essa necessidade de transformação de
energia. De manutenção de fluxo de vida.
Há,
entretanto, no ato de dançar, todo um ritual que me transborda numa cachoeira
quase divina de energia vital, que me preenche completamente e que me insere na
minha posição adequada no Universo.
Eu sou um
ponto minúsculo no Universo do Big Bang. Um grão de areia brilhante que habita
um terceiro planeta de uma estrela qualquer que nem é tão grande assim...
Minha
natureza é de luz! É da mesma natureza dos elementos que formaram as estrelas
que admiro no céu. Da mesma natureza, em sua devida proporção, das constelações
e galáxias. Estas que dançam incessantemente no espaço infinito.
Minha energia também precisa de
movimento. Meus quadris por vezes entram na órbita do meu ventre, ali onde se
concentra a energia que gera vida. Minhas pernas obedecem à trajetória, meu
corpo se contorce em movimentos rítmicos, voluntários, curvilíneos e
rotacionais... Viro um pião, irradio calor. Devolvo ao Universo a energia que
me foi enviada para que eu fosse capaz de sobreviver, mesmo nas mais árduas
condições.
O Universo por sua vez me devolve
luz e me preenche de novos fluxos de vida vindoura! Sejam quais forem as
surpresas do caminho...
Seria muita
presunção de minha parte supor que o Universo entra na minha dança. Gosto de
fazer essa imagem em minha mente, todavia estou ciente de que acontece
exatamente o inverso.
Quando fecho os olhos e me deixo
ser levada por sons que me invadem e que me atravessam quase como sendo partes
de mim, neste momento entro em sintonia não só com a música, mas com tudo que
nos envolve. Com o ar, com a paisagem, com os fluxos de energia que são
incessantemente trocados entre meu corpo e o todo que está à minha volta, às
voltas de minha cidade, de meu país, de meu continente, de meu planeta, de
minha galáxia...
Sou eu quem aceita o convite do Universo,
quem lhe dá a mão gentilmente e permite que ele me conduza em piruetas mágicas
e transcendentais, valsando entre as estrelas e absorvendo um pouco de suas luzes
pelo caminho...
Sou
bailarina sem sapatilhas, sem ter tomado aulas de dança, sem saber os passos
apropriados. Minha coreografia é por intuição. Minha coreografia se dá
pela sensação de ser parte deste todo. Meus movimentos são conduzidos e se
devem ao não pensar, ao apenas me ver como parte deste conjunto, ao ato de permitir
que o Universo me conduza e não o contrário. Não há escolhas, não há erros...
Há apenas um caminho: aquele por onde sou levada através de toda a energia
cósmica quando cerro os olhos e limpo a mente permitindo que me invada apenas o
todo... Sem que nenhuma das partes o faça individualmente.
Transformo-me no que posso ser de
maior quando, conduzida pelo Universo, lhe entrego as fitas da sapatilha para
que ele me determine os passos...
E assim, brincando, o Universo me
conduz em sua valsa e me devolve música e luz e me renova as energias vitais
num ato do mais puro amor. É a prova de que mereço estar viva, de que cada
passo dessa dança vale a pena e de que seres humanos são estrelas em suas
próprias existências... eu sou e você também é. Portanto, dance!!!